O privilégio de ter avós presentes num casamento é algo que nunca tomo como garantido. Quando chego a um dia de casamento e vejo os avós ali, arranjados, muitas vezes sentados nas primeiras filas ou a espreitar discretamente à porta da igreja, percebo logo que, para aquela família, aquele dia tem um peso diferente. Nem todas as pessoas chegam ao casamento com essa sorte, por isso, quando acontece, gosto sempre de o tratar como aquilo que é: um verdadeiro privilégio.
Os avós trazem consigo uma história inteira. São anos de trabalho, de esforço, de domingos em família, de histórias repetidas vezes sem conta, de conselhos dados e de silêncios cheios de significado. Em muitos casos, a família que ali está reunida existe daquela forma porque, algures lá atrás, alguém como eles decidiu abrir caminho. Tê-los presentes no casamento é quase como ter a origem de tudo a assistir à continuação da história.
Mas os avós não vivem esse dia sozinhos. Ao lado deles estão quase sempre os pais, que carregam outro tipo de emoção, mais contida por fora e completamente exposta por dentro. Pais que se lembram de quando pegaram em vocês ao colo pela primeira vez, que vos viram crescer, cair, levantar, errar e acertar. No dia do casamento, muitas vezes estão divididos entre o orgulho, o alívio e aquela pontinha de nostalgia de quem percebe que uma fase da vida está a mudar. É por isso que, para mim, pais e avós são quase sempre o centro emocional de um casamento.
Na reunião antes do casamento e, muitas vezes, também na sessão de solteiros, gosto de vos perguntar quem são essas pessoas. Quem são os vossos avós, quem são os vossos pais, se há alguém que seja “quase família” mesmo sem o ser no papel. Às vezes é uma tia, um padrinho, um amigo de infância, um vizinho que vos viu crescer. Quero perceber quem são os vossos nomes importantes, para que, no meio de tanta gente, eu saiba exatamente quem procurar, a quem estar especialmente atento, onde apontar a câmara quando algo acontece.
Em termos de fotografia, claro que há os retratos “óbvios” que tento garantir sempre: noivos com avós, noivos com pais, todos juntos e também em combinações mais simples. Esses retratos clássicos ganham um valor enorme com o tempo. Mas o que mais procuro são os momentos pequenos que nascem sozinhos: a mão do avô a pousar no ombro, a avó a ajeitar o véu, o pai que respira fundo antes de entrar na igreja, a mãe que se emociona num canto discreto, a tia que vos abraça como se ainda fossem crianças. Muitas vezes, são estes gestos quase invisíveis que acabam por se transformar nas fotografias mais importantes.
Também tenho atenção ao conforto e à realidade de cada pessoa. Há avós que já não andam tão bem, pais que se cansam facilmente, convidados especiais que não podem estar muito tempo em pé. Sempre que posso, escolho locais fáceis de aceder, não arrasto ninguém em grandes distâncias e tento que tudo aconteça com naturalidade. Por vezes, basta parar cinco minutos durante o copo-de-água, chamar pais e avós para um cantinho com boa luz, juntar-vos a eles e deixar que o resto aconteça: abraços, risos, olhares. Não é preciso grandes poses, basta dar-lhes espaço e tempo.
Há também os casos em que alguns destes nomes importantes já não estão presentes. Pais, avós ou outros familiares que partiram antes do casamento e que, mesmo assim, continuam a ser uma presença forte naquele dia. Muitas famílias escolhem homenageá-los com um pequeno detalhe: uma fotografia antiga, uma peça de roupa, um objeto especial, um lugar reservado, uma flor. Quando vejo esses gestos, procuro fotografá-los com muito respeito, sabendo que, para vocês, aquilo não é apenas decoração. É memória.
Ao longo dos anos, tenho percebido que as fotografias com pais, avós e convidados especiais são muitas vezes as primeiras a ser procuradas quando algo muda na vida. No dia do casamento são “mais umas” entre tantas. Mas meses ou anos depois, quando a saudade aperta, tornam-se imagens insubstituíveis. Já ouvi muitas vezes frases como “Ainda bem que tirámos aquela foto com a minha avó” ou “Hoje esta fotografia vale mais do que tudo”. E é exatamente por isso que insisto em perguntar por estas pessoas antes do casamento.
Por muito que o vosso estilo seja descontraído e pouco “posado”, não se trata aqui de montar um teatro. Trata-se de garantir que quem realmente faz parte da vossa história aparece nas imagens, com verdade. É isso que procuro fazer: unir a reportagem espontânea do dia com um cuidado especial por estes laços.
Se sentem que os vossos pais, avós ou outras pessoas especiais são o coração da família, digam-me isso na reunião e na sessão de solteiros. Contem-me quem são, porque são importantes, se há algum gesto, objeto ou momento que gostariam de guardar. Assim, quando chegar o dia do casamento, não estou apenas a fotografar “convidados”: estou a fotografar pessoas com nome, com história e com um lugar muito concreto no vosso coração. E isso muda tudo.






