A festa: não tem de ser igual em todos os casamentos.

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Depois da cerimónia, dos abraços mais emocionados e das fotografias com a família, há um momento em que o dia muda de energia. A tensão desaparece, o vestido já foi estreado, o nó da gravata começa a relaxar, os sapatos apertados dão lugar a ténis, e o que sobra é aquilo que muitos convidados mais desejam: comer bem, rir muito e dançar até não poder mais. A festa é, para mim, a parte em que o casamento se torna mais “vosso”, no sentido mais puro: já não é protocolo, é instinto.


É também por isso que, na forma como fotografo, a festa é uma das partes onde mais gosto de estar atento. É aqui que caem as defesas, que os amigos se revelam, que os tios que pareciam sérios se transformam nos reis da pista, que os miúdos correm por todo o lado, que as gargalhadas são mais altas e que os abraços deixam de ser tímidos. É o lado do casamento em que já ninguém está preocupado se o penteado está perfeito ou se a gravata está direita. E é exactamente aí que as fotografias mais verdadeiras nascem.


Gosto de pensar a festa não como “mais uma etapa do dia”, mas como um capítulo inteiro da história. É ali que se misturam gerações: os avós que ficam um pouco mais para ver a abertura da pista, os pais que acabam a cantar em coro, os amigos que formam rodas à volta dos noivos, os convidados que se reencontram depois de anos sem se ver. Quando estou no meio dessa confusão bonita, o meu objectivo não é interromper, não é montar cenas, não é pedir para repetir um brinde ou um salto. É estar lá, discreto, a acompanhar o ritmo, pronto para carregar no disparador nos momentos certos.


Claro que há alguns marcos tradicionais que costumam acontecer durante a festa: a entrada dos noivos no salão, o corte do bolo, a primeira dança, o bouquet, o brinde. Tudo isso tem o seu lugar e eu estou lá para registar. Mas o que realmente faz a diferença são as coisas que não estão no plano: o amigo que pega o noivo ao colo, a prima que se emociona a meio de uma música, a roda improvisada, as coreografias que ninguém ensaiou, o momento em que toda a gente canta em uníssono uma música que fez parte da vossa história.

Também acredito que uma grande festa de casamento não tem de ser igual em todos os casamentos. Há casais que imaginam a pista cheia até às tantas, com DJ ou banda e luzes por todo o lado. Há outros que gostam mais de uma festa calma, com conversa à volta das mesas, crianças a brincar na relva e música mais descontraída. O que importa é que a festa se pareça convosco. Quando nos encontramos antes do casamento, gosto de perceber este lado também: se são mais “pista até cair” ou mais “conversa e copo na mão”, que tipo de música vos faz sair da cadeira, se há algum momento especial planeado com amigos ou família. Tudo isso ajuda-me a estar no sítio certo à hora certa.

Outra coisa que para mim é essencial é não matar a festa com interrupções constantes. É por isso que, quando pensamos na timeline do dia, tento sempre ajudar a encaixar os momentos mais formais de forma a não cortar o ritmo. Quanto mais cedo organizarmos coisas como fotografias de família, pequenas sessões com os noivos e surpresas, mais livre fica a noite para aquilo que ela deve ser: uma celebração sem pausas forçadas. A partir do momento em que a pista abre, o ideal é deixá-la respirar.

E, sim, também aqui entra o tema da privacidade. Nem toda a gente gosta de se ver a dançar nas redes sociais, muito menos em vídeos que podem ser partilhados sem controlo. Por isso, tal como no resto do casamento, a festa é fotografada e, quando faz sentido, filmada com a mesma lógica: primeiro para vocês e para a vossa rede privada, apenas com acesso a quem convidarem. Se mais tarde quiserem escolher duas ou três imagens para mostrar ao mundo, é convosco. A prioridade é que as pessoas se sintam livres para dançar, rir e festejar sem pensar se alguém as vai expor online.

No fim, quando penso numa grande festa de casamento, não imagino apenas uma pista cheia. Imagino um ambiente em que as pessoas se sentem em casa, em que há espaço para quem quer dançar e para quem prefere ficar a conversar, em que ninguém tem medo de se desarrumar, em que os noivos têm tempo para estar com todos e também um com o outro. O meu papel é guardar esse caos bonito em imagens: o copo levantado no momento certo, a gargalhada que quase dói na barriga, o salto ao ombro do amigo, o abraço suado às quatro da manhã.

Porque sim, temos cerimónia, protocolos, detalhes, vestido, fatos, decoração… mas, no fim do dia, há uma pergunta que paira no ar desde o primeiro minuto: e do que é que estamos todos à espera? De uma grande festa de casamento. E é um privilégio estar lá para a contar.

A festa: não tem de ser igual em todos os casamentos.

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